quarta-feira, 7 de março de 2012

Sonho

Olhos cerrados, você comigo.
Olhos abertos, escuridão.

Quero dormir pra sempre!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Brincadeira

É noite de você comigo.
Sou toda feita de laços de fita!
Pra te encantar...
Pra você descobrir...

domingo, 9 de outubro de 2011

Piscar

Ela ainda quis encontrá-lo.
Não é possível que tenha desaparecido assim!
Não estava embaixo do sofá,
nem atrás da cortina da sala.
Havia um rastro dele no baú de fotografias antigas.
Só um rastro.
Revirou, desarrumou.
Em vão.
A última tentativa era procurar no azul.
O azul dos olhos dele...
Mas eles também partiram...

Deixou marcas durante a travessia, sorrisos que não voltam mais,
culpas que não acabam, corpo que não descansa.
Era tão dela. Era só dela. Mas passou.
Passou tão rápido o amor...

terça-feira, 1 de março de 2011

O espelho me conta sobre a fuga. Sem deixar qualquer vestígio pelo chão ou marcas nas paredes, desapareci de mim: passos largos para longe, seguindo contornos estreitos que não levam a lugar algum. A imagem no espelho não é a minha. Ainda não fui encontrada, ainda não me encontrei.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Despertar

Apareço.
Esperei tanto tempo por essa luz. Era solitário e silencioso demais lá embaixo. Gosto do novo ar: respirar, sentir a brisa. Começo a perceber o movimento ao redor, olhares delicados sobre mim.
Cresço.
Cada vez mais distante da terra firme.
Existo. E me faço perceber.
Colorir o cinza da sala, decorar a alma sombria.

É feita a hora: sou flor desabrochada e quero perfumar!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Romântico diálogo para linguistas


- O quê?
- Só olhando.
- Para meus olhos cansados?
- Para seus olhos de infinito...
- É manhã demais pra suas metáforas!
- Tem hora pra metaforizar?
- Tem hora pra não metaforizar.
- Quero mergulhar no infinito! Para sempre, morar no infinito.
- Hipérboles também são cansativas, vá!
- Metáforas são?
- Falei sobre hipérboles; não sobre metáforas...
- Seu 'também'...
- Foi pra fazer par com meus olhos cansados. O despertador já tocou, pode acordar agora!
- Tá. Então eu paro com os versos.
- Para, é?
- É... Não quero mais ser suavemente violentado por suas belas palavras de carinho.
- Eufemismo ou sinestesia?
- Ironia.
- Difícil não se irritar com você; não gosto quando com meus olhos cansados brinca de fazer poesia. Não gosto, detesto, repudio. Nem de você eu gosto!
- Gradação...
- Ironia.

E antes de voltar à aula, ela lhe sorriu com um sorriso novo, cru, verdadeiro, desprovido de entrelinhas. E ele lhe devolveu o mesmo presente, depois de recuperar o fôlego. Os dois, de repente, entenderam: personificação. Do puro sentimento do amor.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para nunca mais

Da velha cadeira de balanço da varanda, podia avistá-la deitada sobre a grama fresca, ao lado da jabuticabeira, exposta ao sol agradável da manhã de primavera. Ele a perceberia dormindo, se não fosse o movimento dos dedos dela, à procura de folhas secas espalhadas pelo chão. Tela de Monet. Queria ir até lá, abraçá-la e dizer o quanto era feliz por tê-la deitada sobre a grama de seu jardim, o quão poética era a valsa dos dedos sobre as folhas. Mas, de repente, natureza morta, fria, vazia. As cores suaves de primavera transformaram-se em amarelo outono, cor de foto envelhecida, de lembrança antiga. Ela se fazia ainda mais presente na ausência... O sorriso, que abrira de forma distraída, transformou-se em olhos caídos, emoldurados por tristeza profunda e clichê.
Era dono de lágrimas descompassadas, que lavavam toda a amargura que a morte deixara em seu coração.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Brevidade


O trem amarelo chegou para me levar por outras trilhas.
É hora de partir.
Sem qualquer sinal de amargura, sento-me ao lado da janela de vidro, de onde posso assistir à vida que me escorreu por entre os dedos... Encontro, desencontro, reencontro e, finalmente, a despedida. Mais uma história, do mesmo livro, chegou ao fim.

Deixo escaparem lágrimas sentidas quando enxergo o fim da estrada. Mas meus olhos sorriem, timidamente, quando pressentem o início do novo caminho...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Justificativa

Os dias passam e eu continuo sem escrever.
É que eu quero falar de sonho, vagalume, algodão doce cor-de-rosa, arco-íris e estrela cadente. Mas o que fazer se, quando torço minhas palavras, escorrem lágrimas?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

E João Guimarães Rosa, em toda sua genialidade:




É só.

ps.: e essa fui eu mesma que tirei, em visita ao Museu da Língua. :)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quietude

Às vezes, mesmo em meio a todas as pessoas do mundo, sinto-me só comigo.
Meus olhos empedram e tudo a minha volta, de repente, parece repousar. Paraliso-me externamente, despertando todo meu alvoroço interno: vontade de gritar, de estar em outro lugar. O lugar onde tudo o que não importa não se faz mais presente; o lugar que dá nova vida aos meus olhos e oferece abrigo; onde me sinto segura e consigo descansar.
Eu estou no seu coração.
Feliz, tranquila.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Frenesi


Ele a fazia desabrochar e a entontecia, levando-a para um estado inebriante de sensações agradavelmente surpreendentes; as bocas, unidas, proporcionado o encontro das línguas, sugeriam-lhe a mais próxima definição de paraíso; a pele, encharcada com o suor quente, ruborizava, estremecia. Descobriam-se mutuamente e cada toque produzia um frêmito suave e, ao mesmo instante, rude, deixando minguar a respiração ofegante. Boca, mãos, nuca, corpo. Naquele momento, faziam-se numa única alma e desconheciam onde um terminava para principiar o outro.


Era refém do amor que sentia por ele...
...mas não desejava ser livre.

domingo, 27 de junho de 2010

Sempre seus olhos



Apanhei a mais admirável estrela do céu pra lhe presentear.
Mas que grande confusão cometi!
Pra que iria querer um astro celeste se já possui os dois mais bonitos na face?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sinais do adeus

Chovia na tarde atipicamente fria de outono. Gastara a maioria das horas de seu dia entre paredes sem cor, examinando papeis sem importância, saboreando café sem açúcar e trocando palavras sem sentido ao telefone. A dor de cabeça começava a se tornar insuportável quando o ponteiro do relógio anunciou a volta pra casa. Mais um dia comum entre todos os dias comuns. Entrou no carro, escolheu Mavin Gaye pra lhe fazer companhia e seguiu pelo velho caminho da cidade acinzentada. Desde que ela partira, todas as coisas do mundo haviam perdido qualquer traço de graciosidade e as únicas cores que enxergava eram as do semáforo...
Estava oco por dentro. Na verdade, não estava: a saudade tomara o lugar de todos os órgãos e sangue e veias.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fuga


Hoje eu vou me pôr junto com o sol.
Talvez ninguém me alcance do lado de lá da linha do horizonte...