quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Brevidade


O trem amarelo chegou para me levar por outras trilhas.
É hora de partir.
Sem qualquer sinal de amargura, sento-me ao lado da janela de vidro, de onde posso assistir à vida que me escorreu por entre os dedos... Encontro, desencontro, reencontro e, finalmente, a despedida. Mais uma história, do mesmo livro, chegou ao fim.

Deixo escaparem lágrimas sentidas quando enxergo o fim da estrada. Mas meus olhos sorriem, timidamente, quando pressentem o início do novo caminho...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Justificativa

Os dias passam e eu continuo sem escrever.
É que eu quero falar de sonho, vagalume, algodão doce cor-de-rosa, arco-íris e estrela cadente. Mas o que fazer se, quando torço minhas palavras, escorrem lágrimas?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

E João Guimarães Rosa, em toda sua genialidade:




É só.

ps.: e essa fui eu mesma que tirei, em visita ao Museu da Língua. :)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quietude

Às vezes, mesmo em meio a todas as pessoas do mundo, sinto-me só comigo.
Meus olhos empedram e tudo a minha volta, de repente, parece repousar. Paraliso-me externamente, despertando todo meu alvoroço interno: vontade de gritar, de estar em outro lugar. O lugar onde tudo o que não importa não se faz mais presente; o lugar que dá nova vida aos meus olhos e oferece abrigo; onde me sinto segura e consigo descansar.
Eu estou no seu coração.
Feliz, tranquila.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Frenesi


Ele a fazia desabrochar e a entontecia, levando-a para um estado inebriante de sensações agradavelmente surpreendentes; as bocas, unidas, proporcionado o encontro das línguas, sugeriam-lhe a mais próxima definição de paraíso; a pele, encharcada com o suor quente, ruborizava, estremecia. Descobriam-se mutuamente e cada toque produzia um frêmito suave e, ao mesmo instante, rude, deixando minguar a respiração ofegante. Boca, mãos, nuca, corpo. Naquele momento, faziam-se numa única alma e desconheciam onde um terminava para principiar o outro.


Era refém do amor que sentia por ele...
...mas não desejava ser livre.

domingo, 27 de junho de 2010

Sempre seus olhos



Apanhei a mais admirável estrela do céu pra lhe presentear.
Mas que grande confusão cometi!
Pra que iria querer um astro celeste se já possui os dois mais bonitos na face?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sinais do adeus

Chovia na tarde atipicamente fria de outono. Gastara a maioria das horas de seu dia entre paredes sem cor, examinando papeis sem importância, saboreando café sem açúcar e trocando palavras sem sentido ao telefone. A dor de cabeça começava a se tornar insuportável quando o ponteiro do relógio anunciou a volta pra casa. Mais um dia comum entre todos os dias comuns. Entrou no carro, escolheu Mavin Gaye pra lhe fazer companhia e seguiu pelo velho caminho da cidade acinzentada. Desde que ela partira, todas as coisas do mundo haviam perdido qualquer traço de graciosidade e as únicas cores que enxergava eram as do semáforo...
Estava oco por dentro. Na verdade, não estava: a saudade tomara o lugar de todos os órgãos e sangue e veias.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fuga


Hoje eu vou me pôr junto com o sol.
Talvez ninguém me alcance do lado de lá da linha do horizonte...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sobre o destino


Os braços se enlaçam, o coração encontra o outro. Como se seguindo um compasso adocicado de uma nota de Strauss, os corpos se tocam e se reconhecem como únicos, embalados pelo ritmo suave da melodia que só os dois são capazes de ouvir.
As pálpebras se fecham devagar e empurram delicadamente a lágrima escondida.
Num pedido silencioso de socorro, as mãos agarram-se à pele de forma tão intensa que deixam marcas. Sinais do desespero e da esperança.
Queriam aprisionar aquele momento e nunca mais libertá-lo.

Quando a partida torna-se inevitável e a dor maltrata o coração, ainda resta o que se esperar com entusiasmo: o abraço eterno da despedida.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pra você voltar



O fogo da lareira não aquece a sala nem o cobertor esquenta o corpo.
Faz frio dentro de mim e é só o calor do seu abraço que faz arder meu coração...

sábado, 15 de maio de 2010

Presente Imperfeito



Batias as asas e era o rei de si.
Voava sobre o horizonte
sentindo, do alto, o aroma de morango fresco que tem a liberdade...
Era tão bom ser um passáro!

Mas de repente chegaram mãos enganadas
e o levaram para o triste destino.
Não havia mais flores do campo,
nem nuvens cor-de-rosa do entardecer.
Tudo o que via, agora, era o quintal cinza da casa
por entre as grades de arame.

É tão triste ser um pássaro...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O primeiro instante do sentimento primeiro


Tudo aconteceu naquele mesmo minuto em que os olhos se encontraram.

O coração teve ímpetos de parar de bater, as mãos suaram, as pernas tremeram, o pensamento se confundiu, a velha onda conhecida de calor inundou o corpo todo.
Não queria que fosse daquele jeito, afinal passara a pouca vida toda fugindo de olhares coloridos ameaçadores. 'Amar é um sofrimento voluntário', como dizia sua pobre mãe, toda vez que fitava o retrato do pai dele. Mas agora era diferente. Por mais que tentasse, não conseguia correr. Os olhos dela o cercavam e não o deixavam sequer sair do lugar. Na verdade, poderia ficar por horas ali, estático, mirando a personificação do seu mais íntimo, súbito e surpreendente desejo.
Sentia vontade mesmo era de tocá-la. A pele branca contrastando com os cabelos negros caídos nos ombros, os olhos furta-cor diante do sol, a boca marcada pelo batom cor de uva... aquela imagem despretensiosamente bela o fazia querer partir para o desconhecido. Nem sabia mais quem ele era. Só quem era ela: seu refúgio, seu colo, seu (primeiro) amor.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Morte anunciada

Ela chegou em casa, ele já dormia.
Ele chegou em casa, ela já dormia.
Talvez nem no sonho mais se encontrassem.
Silêncio na casa, silêncio no coração.
Tão perto, tão longe...
Caminhos cruzados que não dão no mesmo lugar.

É triste quando o amor fica doente.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lembrete dourado


Hoje uma borboleta amarela entrou e saiu pela janela do meu carro. Eu só pensei como era linda a borboletinha dourada perdida: 'Vai, obrigada pela bela visita, segue seu rumo...' Mas quando virei a esquina, alguns metros depois, a borboletinha amarela voltou! A mesma! Eu juro que era a mesma! Entrou, parou do meu lado, batendo as asinhas decidida, cheia de si, como se quisesse me trazer uma mensagem de gentileza ou galanteria e saiu, ao encontro do vento.
Foi o bastante pra me fazer pisar no freio. Encostei o carro e... pensei! Caramba, há quanto tempo não parava minha correria para... pensar! Um sinal. Um sinal de que existe muita vida em vida. A borboleta amarela insistente coloriu meu carro preto e alegrou meu dia e meu coração. A borboleta amarela, vinda não sei de onde e indo para não sei qual lugar, se lembrou de mim e quis me agraciar com sua presença mágica.
Vou prestar mais atenção nos sinais, que não são os do trânsito. E torcer pras borboletas das outras cores virem me trazer sopros de vida! :)


Muita vida em vida.
Vide a vida.

terça-feira, 11 de maio de 2010

SOS

Quero gritar, mas alguém colocou um lenço em minha boca. Quero correr, mas alguém colocou correntes em minhas pernas. Quero fugir, mas não existe caminho. O mundo que eu criei parece mesmo só ter existido nos meus sonhos de criança, durante aquelas noites tranquilas depois do boa noite do pai ou do chá de camomila da mãe. Cadê a vida que me prometeram? Cadê a vida que me prometi?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ode aos olhos

Todo mundo sente medo na vida.
Saltos muito altos, por exemplo, metem medo
na bailarina,
E caras sérias na plateia
fazem tremer o palhaço.
Para o girassol, dia nublado é dia sem cor, é dia frio.
Para o poeta, o medo está em seu papel vazio.

Eu miro o perigo quando olho pra você.
Esses dois pontos de luz
que me envolvem e me puxam para o abismo,
essas duas pedras ametistas
que parecem absorver minha alma,
esses olhos cor de aquário
que confundem minha mente e brincam com minha razão.

São esses os olhos que me têm como refém,
atormentam minha calma,
apontam-me a outra direção.




Mas faces sem riso e cabeça vazia
não trazem alegria
nem fazem sonhar.
Seus olhos sim.
E é por isso que não temo.
Quero decolar no azul,
mergulhar no azul
e nunca mais ser vista.
Quero viver pra sempre dentro dos seus olhos.
Sem medo.