quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sobre o destino


Os braços se enlaçam, o coração encontra o outro. Como se seguindo um compasso adocicado de uma nota de Strauss, os corpos se tocam e se reconhecem como únicos, embalados pelo ritmo suave da melodia que só os dois são capazes de ouvir.
As pálpebras se fecham devagar e empurram delicadamente a lágrima escondida.
Num pedido silencioso de socorro, as mãos agarram-se à pele de forma tão intensa que deixam marcas. Sinais do desespero e da esperança.
Queriam aprisionar aquele momento e nunca mais libertá-lo.

Quando a partida torna-se inevitável e a dor maltrata o coração, ainda resta o que se esperar com entusiasmo: o abraço eterno da despedida.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pra você voltar



O fogo da lareira não aquece a sala nem o cobertor esquenta o corpo.
Faz frio dentro de mim e é só o calor do seu abraço que faz arder meu coração...

sábado, 15 de maio de 2010

Presente Imperfeito



Batias as asas e era o rei de si.
Voava sobre o horizonte
sentindo, do alto, o aroma de morango fresco que tem a liberdade...
Era tão bom ser um passáro!

Mas de repente chegaram mãos enganadas
e o levaram para o triste destino.
Não havia mais flores do campo,
nem nuvens cor-de-rosa do entardecer.
Tudo o que via, agora, era o quintal cinza da casa
por entre as grades de arame.

É tão triste ser um pássaro...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O primeiro instante do sentimento primeiro


Tudo aconteceu naquele mesmo minuto em que os olhos se encontraram.

O coração teve ímpetos de parar de bater, as mãos suaram, as pernas tremeram, o pensamento se confundiu, a velha onda conhecida de calor inundou o corpo todo.
Não queria que fosse daquele jeito, afinal passara a pouca vida toda fugindo de olhares coloridos ameaçadores. 'Amar é um sofrimento voluntário', como dizia sua pobre mãe, toda vez que fitava o retrato do pai dele. Mas agora era diferente. Por mais que tentasse, não conseguia correr. Os olhos dela o cercavam e não o deixavam sequer sair do lugar. Na verdade, poderia ficar por horas ali, estático, mirando a personificação do seu mais íntimo, súbito e surpreendente desejo.
Sentia vontade mesmo era de tocá-la. A pele branca contrastando com os cabelos negros caídos nos ombros, os olhos furta-cor diante do sol, a boca marcada pelo batom cor de uva... aquela imagem despretensiosamente bela o fazia querer partir para o desconhecido. Nem sabia mais quem ele era. Só quem era ela: seu refúgio, seu colo, seu (primeiro) amor.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Morte anunciada

Ela chegou em casa, ele já dormia.
Ele chegou em casa, ela já dormia.
Talvez nem no sonho mais se encontrassem.
Silêncio na casa, silêncio no coração.
Tão perto, tão longe...
Caminhos cruzados que não dão no mesmo lugar.

É triste quando o amor fica doente.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lembrete dourado


Hoje uma borboleta amarela entrou e saiu pela janela do meu carro. Eu só pensei como era linda a borboletinha dourada perdida: 'Vai, obrigada pela bela visita, segue seu rumo...' Mas quando virei a esquina, alguns metros depois, a borboletinha amarela voltou! A mesma! Eu juro que era a mesma! Entrou, parou do meu lado, batendo as asinhas decidida, cheia de si, como se quisesse me trazer uma mensagem de gentileza ou galanteria e saiu, ao encontro do vento.
Foi o bastante pra me fazer pisar no freio. Encostei o carro e... pensei! Caramba, há quanto tempo não parava minha correria para... pensar! Um sinal. Um sinal de que existe muita vida em vida. A borboleta amarela insistente coloriu meu carro preto e alegrou meu dia e meu coração. A borboleta amarela, vinda não sei de onde e indo para não sei qual lugar, se lembrou de mim e quis me agraciar com sua presença mágica.
Vou prestar mais atenção nos sinais, que não são os do trânsito. E torcer pras borboletas das outras cores virem me trazer sopros de vida! :)


Muita vida em vida.
Vide a vida.

terça-feira, 11 de maio de 2010

SOS

Quero gritar, mas alguém colocou um lenço em minha boca. Quero correr, mas alguém colocou correntes em minhas pernas. Quero fugir, mas não existe caminho. O mundo que eu criei parece mesmo só ter existido nos meus sonhos de criança, durante aquelas noites tranquilas depois do boa noite do pai ou do chá de camomila da mãe. Cadê a vida que me prometeram? Cadê a vida que me prometi?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ode aos olhos

Todo mundo sente medo na vida.
Saltos muito altos, por exemplo, metem medo
na bailarina,
E caras sérias na plateia
fazem tremer o palhaço.
Para o girassol, dia nublado é dia sem cor, é dia frio.
Para o poeta, o medo está em seu papel vazio.

Eu miro o perigo quando olho pra você.
Esses dois pontos de luz
que me envolvem e me puxam para o abismo,
essas duas pedras ametistas
que parecem absorver minha alma,
esses olhos cor de aquário
que confundem minha mente e brincam com minha razão.

São esses os olhos que me têm como refém,
atormentam minha calma,
apontam-me a outra direção.




Mas faces sem riso e cabeça vazia
não trazem alegria
nem fazem sonhar.
Seus olhos sim.
E é por isso que não temo.
Quero decolar no azul,
mergulhar no azul
e nunca mais ser vista.
Quero viver pra sempre dentro dos seus olhos.
Sem medo.