quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Brincadeira

É noite de você comigo.
Sou toda feita de laços de fita!
Pra te encantar...
Pra você descobrir...

domingo, 9 de outubro de 2011

Piscar

Ela ainda quis encontrá-lo.
Não é possível que tenha desaparecido assim!
Não estava embaixo do sofá,
nem atrás da cortina da sala.
Havia um rastro dele no baú de fotografias antigas.
Só um rastro.
Revirou, desarrumou.
Em vão.
A última tentativa era procurar no azul.
O azul dos olhos dele...
Mas eles também partiram...

Deixou marcas durante a travessia, sorrisos que não voltam mais,
culpas que não acabam, corpo que não descansa.
Era tão dela. Era só dela. Mas passou.
Passou tão rápido o amor...

terça-feira, 1 de março de 2011

O espelho me conta sobre a fuga. Sem deixar qualquer vestígio pelo chão ou marcas nas paredes, desapareci de mim: passos largos para longe, seguindo contornos estreitos que não levam a lugar algum. A imagem no espelho não é a minha. Ainda não fui encontrada, ainda não me encontrei.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Despertar

Apareço.
Esperei tanto tempo por essa luz. Era solitário e silencioso demais lá embaixo. Gosto do novo ar: respirar, sentir a brisa. Começo a perceber o movimento ao redor, olhares delicados sobre mim.
Cresço.
Cada vez mais distante da terra firme.
Existo. E me faço perceber.
Colorir o cinza da sala, decorar a alma sombria.

É feita a hora: sou flor desabrochada e quero perfumar!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Romântico diálogo para linguistas


- O quê?
- Só olhando.
- Para meus olhos cansados?
- Para seus olhos de infinito...
- É manhã demais pra suas metáforas!
- Tem hora pra metaforizar?
- Tem hora pra não metaforizar.
- Quero mergulhar no infinito! Para sempre, morar no infinito.
- Hipérboles também são cansativas, vá!
- Metáforas são?
- Falei sobre hipérboles; não sobre metáforas...
- Seu 'também'...
- Foi pra fazer par com meus olhos cansados. O despertador já tocou, pode acordar agora!
- Tá. Então eu paro com os versos.
- Para, é?
- É... Não quero mais ser suavemente violentado por suas belas palavras de carinho.
- Eufemismo ou sinestesia?
- Ironia.
- Difícil não se irritar com você; não gosto quando com meus olhos cansados brinca de fazer poesia. Não gosto, detesto, repudio. Nem de você eu gosto!
- Gradação...
- Ironia.

E antes de voltar à aula, ela lhe sorriu com um sorriso novo, cru, verdadeiro, desprovido de entrelinhas. E ele lhe devolveu o mesmo presente, depois de recuperar o fôlego. Os dois, de repente, entenderam: personificação. Do puro sentimento do amor.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para nunca mais

Da velha cadeira de balanço da varanda, podia avistá-la deitada sobre a grama fresca, ao lado da jabuticabeira, exposta ao sol agradável da manhã de primavera. Ele a perceberia dormindo, se não fosse o movimento dos dedos dela, à procura de folhas secas espalhadas pelo chão. Tela de Monet. Queria ir até lá, abraçá-la e dizer o quanto era feliz por tê-la deitada sobre a grama de seu jardim, o quão poética era a valsa dos dedos sobre as folhas. Mas, de repente, natureza morta, fria, vazia. As cores suaves de primavera transformaram-se em amarelo outono, cor de foto envelhecida, de lembrança antiga. Ela se fazia ainda mais presente na ausência... O sorriso, que abrira de forma distraída, transformou-se em olhos caídos, emoldurados por tristeza profunda e clichê.
Era dono de lágrimas descompassadas, que lavavam toda a amargura que a morte deixara em seu coração.